O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito

O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito

Passeando pela internet, nos deparamos com um texto de uma sensibilidade ímpar. Carol compartilhou sua visão sobre os pequenos prazeres do dia a dia e, como protagonista desses momentos de indulgencia: o Trent Planner. Seu olhar para o sentir e pela apreciação dos momentos de indulgência é tão singelo que queremos compartilhar.

Carolina Ruhman Sandler é jornalista, escritora e uma apaixonada por livros e cadernos. Passou por diversos veículos de mídia como TV/Rádio Bandeirantes e Revista Claudia. Fundou o Finanças Femininas, a maior plataforma de educação financeira para mulheres do Brasil. Autora de três livros e uma grande produção de conteúdo sobre finanças para mulheres. Escreve semanalmente a newsletter literária Vou te Falar, onde explora seu universo interior e sua relação com o mundo contemporâneo, além de compartilhar dicas culturais a partir de uma curadoria humanizada. Cursa atualmente o Master of Liberal Arts na Johns Hopkins University.

 

O planner e o prazer do supérfluo
Nem tudo precisa ter um propósito


Eu não preciso daquilo. Gastei um dinheiro excessivo nele, inclusive. Mas o prazer que sinto ao abrir o caderno todos os dias de manhã compensa. Ele é de couro na cor bronze e a lateral das páginas é dourada. Na capa, quatro números: 2024. É o meu planner - e é lindo. 


O conceito de um planner nesta altura do campeonato é completamente anacrônico. Temos aplicativos suficientes para organizar a vida e deixar tudo na tela do celular: agenda, to dos, Notion. Minha organização digital é de causar inveja - chego ao extremo de ter uma wiki de todos os cardápios semanais que já criei. O Luiz olha para o meu caderno chamativo em cima da mesa e pergunta: você precisa mesmo disso?


De forma alguma. Mas nem tudo deve ser à base da necessidade. Gostamos de alguns objetos só por serem belos. Extravagantes. Desnecessários. Deliciosos.


É um pequeno ritual. Dá uma alegria enorme só de tirá-lo da bolsa. Pego minha caneta de quatro cores e começo a programar o meu dia. Anoto em roxo os compromissos, as reuniões, os almoços e encontros. Em rosa, planejo o momento de escrever a edição desta newsletter e todas as leituras e trabalhos do mestrado. Em laranja, as tarefas do trabalho - apenas as prioridades. Em azul, os grandes eventos: aniversários, viagens, festas. O resultado é uma semana colorida, uma página onde consigo enxergar como vou dar conta de tudo.

"Olho para as semanas anteriores e vejo o quanto realizei. O planner é um lugar de futurologia e arqueologia. Tudo que vivi deixa marca."

O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito
O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito
O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito
O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito
O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito
O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito
O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito
O planner e o prazer do supérfluo: Nem tudo precisa ter um propósito

Os aplicativos do celular servem para lembrar de cada detalhe que compõe a rotina e o trabalho, um estoque organizado do oceano da vida de mãe-estudante-escritora-executiva (esta última é novidade). O caderno é o lugar do mais importante e estratégico, daquilo que amo e me dá prazer. Ao programar nele meu dia, me sinto organizada, planejada, eficiente. A caneta colorida dá um toque divertido. É um deleite usar a minha melhor caligrafia e ocupar todos os espaços.


Olho para as semanas anteriores e vejo o quanto realizei. O planner é um lugar de futurologia e arqueologia. Tudo que vivi deixa marca. 


Pode ser o Sol em Touro, mas eu gosto do material, do objeto belo, do conforto. O ato de pegar um caderno bonito é esteticamente delicioso. (Lembro de um dia em que um amigo que cursava Filosofia me acusou do outro lado de uma mesa de bar, no fim da adolescência: "você é uma esteta!". Morri de rir. O xingamento dele era motivo de orgulho para mim). 


É o mesmo tipo de prazer - embora bem menos elevado, confesso - que o de mergulhar em um quadro do Rothko ou ouvir Mad Rush. O belo não precisa de função ou propósito. O supérfluo também tem seu valor.


Então me deixa em paz com meu planner. Ele não é nenhuma obra de arte, mas é um pequeno espetáculo particular.

 

Por Carol Ruhman.

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